Dias de Ira: A bruxaria simbolizando empoderamento
- Admin
- 7 de set. de 2018
- 3 min de leitura

O texto a seguir tem revelações importantes da trama, se você não gosta de Spoilers veja o filme e depois volta pra cá ;)
Dias de Ira é um filme de 1943 dirigido pelo diretor dinamarquês Carl T. Dreyer. A sinopse é a seguinte: Anne é uma jovem obrigada a se casar com um bispo da igreja (Absalon), apesar de não amá-lo. O filho dele, Martin, logo chega de viagem e Anne se apaixona pelo enteado e ele corresponde esses sentimentos.
O cenário histórico do filme é a Inquisição, época em que mulheres eram acusadas de bruxaria e queimadas na fogueira para a "glória de Deus" (só que não). Qualquer mulher que conhecesse ervas medicinais ou que tivesse apetite sexual era acusada de ser bruxa, aliás, qualquer comportamento considerado "indevido" de uma mulher poderia ser motivo para ir direto pra fogueira. Esse crime contra as mulheres era aceito pelas pessoas com a justificativa de estarem fazendo algo que era mandado por Deus.

"Você não pode me mandar para a morte"
Já no começo do filme, quando uma bruxa mais velha é acusada e perseguida, fica claro que ela não teve nenhum contato com o diabo e que sua confissão não passa de confirmar perguntas que seus acusadores fazem só para se livrar da tortura. Essa mulher traz uma revelação para Anne, que junto com a chegada do jovem Martin, faz com que a jovem mude: sua mãe aparentemente era uma bruxa, que só foi poupada porque o bispo queria se casar com a Anne.
A partir do momento da descoberta, algo nasce dentro da protagonista, saber que sua mãe tinha poderes faz com que ela deseje ter tais dons para fugir da vida que foi imposta a ela. Assim Anne se entrega a paixão que sente por Martin e assim floresce como mulher ao finalmente experimentar a satisfação sexual que não sentia com seu marido.

Fica claro que a bruxaria nada mais é do que um símbolo de uma mulher empoderada, uma mulher que descobre que tem "poderes" e que pode sim satisfazer a seus desejos. Anne começa a ter auto confiança, começa a acreditar na sua força interior e se impor as pessoas que a querem controlar e humilhar. Apesar de não ser mostrado em nenhum momento que Anne fez algum pacto com o diabo, a crença no poder que ela herdou da mãe e o suficiente para ela.
Quando Absalon morre, Anne acredita que é a concretização de seus dons sobrenaturais, já que deseja o tempo todo a morte de seu opressor. Martin, depois de se satisfazer nos braços dela, se volta contra Anne e a culpa de o enfeitiçar quando sua avó a acusa de bruxaria e de ter usado seus poderes para matar o marido, mais uma vez todos estão contra ela e seu destino cruel a aguarda.
Incompreendida, ela é punida por querer se libertar de suas amarras, por querer ser feliz, como qualquer outra pessoa, em um mundo controlado por homens e com mulheres que repetem os "ensinamentos" que receberam deles, uma mulher que ousa se revoltar contra tudo isso, perece sem o apoio de ninguém.
Será que as coisas tem sido diferentes hoje em dia? Será que a violência com desculpas religiosas e a opressão contra as mulheres continuam como na época do filme? Bom, isso eu deixo para você concluir.

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